diário dos vivos [fragmento]
IX.
nas coisas em que a cabeça dói, o corpo entorta e os pés
reclamam, o coração implícito está. e estando, explicita-se: vem à boca. assim
acordei naquele dia: o coração na boca. toma uma sonrisal que melhora, tio!
desde que abri os olhos naquela manhã, sentia um cheiro de passado. que ia
ficando mais forte à medida que as horas passavam. refugiei-me no escritório em
meio aos livros, mas nada de o cheiro passar. foi por volta das onze horas que
o cheiro foi ficando mais forte. veio uma náusea. fui na área, peguei balde,
enchi d’água, coloquei creolina, peguei
vassoura e esfregão. vai dar faxina, tio? tá quase na hora do almoço. esfreguei
todos os cômodos, chão e paredes. quase uma hora sem negligenciar sequer um vão
da casa. ao final, caí exausto na poltrona da sala. de nada adiantou. o cheiro
parecia vir de dentro de mim, de tão forte que estava. estava a ponto de
desmaiar, quando a campainha tocou. tio, tem um homem lá no portão dizendo que
é seu amigo, veio te ver. e o cheiro rompeu todas as barreiras: o vento do
início da tarde arrastava-o do portão, passando por todo o quintal,
atravessando a sala e perfurando a memória das minhas narinas. os únicos amigos
que tenho são os da birosca e vocês todos os conhecem, foi o que consegui
balbuciar diante da iminência do desmaio. fiz menção de me levantar da poltrona
e ir me trancar no quarto. não queria receber ninguém. mas as pernas não foram,
a sala escureceu, no exato momento em que ele já se encontrava na porta de
entrada. não cumprimenta um velho amigo?
Para ler o restante, adquira o livro Diário dos vivos e outros escritos, publicado pela Editora Penalux, set. 2019, no site a seguir:
https://www.editorapenalux.com.br/loja/contos/diario-dos-vivos-e-outros-escritos
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