domingo, 14 de outubro de 2018




diário dos vivos [fragmento]

IX.

nas coisas em que a cabeça dói, o corpo entorta e os pés reclamam, o coração implícito está. e estando, explicita-se: vem à boca. assim acordei naquele dia: o coração na boca. toma uma sonrisal que melhora, tio! desde que abri os olhos naquela manhã, sentia um cheiro de passado. que ia ficando mais forte à medida que as horas passavam. refugiei-me no escritório em meio aos livros, mas nada de o cheiro passar. foi por volta das onze horas que o cheiro foi ficando mais forte. veio uma náusea. fui na área, peguei balde, enchi d’água, coloquei  creolina, peguei vassoura e esfregão. vai dar faxina, tio? tá quase na hora do almoço. esfreguei todos os cômodos, chão e paredes. quase uma hora sem negligenciar sequer um vão da casa. ao final, caí exausto na poltrona da sala. de nada adiantou. o cheiro parecia vir de dentro de mim, de tão forte que estava. estava a ponto de desmaiar, quando a campainha tocou. tio, tem um homem lá no portão dizendo que é seu amigo, veio te ver. e o cheiro rompeu todas as barreiras: o vento do início da tarde arrastava-o do portão, passando por todo o quintal, atravessando a sala e perfurando a memória das minhas narinas. os únicos amigos que tenho são os da birosca e vocês todos os conhecem, foi o que consegui balbuciar diante da iminência do desmaio. fiz menção de me levantar da poltrona e ir me trancar no quarto. não queria receber ninguém. mas as pernas não foram, a sala escureceu, no exato momento em que ele já se encontrava na porta de entrada. não cumprimenta um velho amigo?

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https://www.editorapenalux.com.br/loja/contos/diario-dos-vivos-e-outros-escritos


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