domingo, 14 de outubro de 2018




diário dos vivos [fragmento]

VI.

não há muita coisa a fazer. a doença do tio de vocês evolui na surdina, e ela pode miná-lo aos poucos. ele tem pouco tempo, doutor? ninguém sabe. o que se sabe é que ele não pode viver sozinho, tem que ter sempre alguém pra cuidar dele. por causa dessas palavras idiotas do médico, os de casa resolveram que a partir daquele momento não seriam mais visitas esporádicas no natal e nos meus aniversários: seriam os de casa. e há quatorze anos se mudaram de mala e cuia para cá. a casa é grande, tio. tem muitos quartos, vamos ficar bem. e é bom que a gente esteja aqui para cuidar sempre do senhor, né? eu não achava isso nada bom. mas se eu expusesse essa minha opinião, com certeza eles diriam se tratar de sintomas da doença que já se prenunciavam. consenti. foi precisamente nessa época que fiz a opção por dar de ombros e a responder a quase tudo com muxoxos. não sem antes, porém, fazer aquele que talvez tenha sido meu último discurso para os de casa e que se resumiu a duas frases. se querem ficar, fiquem. mas que fiquem também longe dos meus livros e dos meus discos. consentiram.

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