diário dos vivos [fragmento]
XI.
já passava das oito da noite. precisava voltar, os de casa
já deveriam estar putos da vida me aguardando para jantar. mas um dos amigos da
birosca me intimava a permanecer. tinha que ouvir o poema que acabara de
escrever. rompemos nossa amizade aqui se você for antes de ouvi-lo. pedi mais
uma pinga. era um poema ruim. como quase todos escritos em guardanapos.
brindamos a ele e ao seu poema. dei a última talagada. agora vou. o amigo do
poema meu deu abraço de quebrar costelas. você é um dos sujeitos que mais admiro
nesta cidade. leve o poema, é seu. os outros me olharam em suspense. sorri para
o amigo do poema, dei-lhe um beijo no rosto e coloquei o guardanapo no bolso.
os outros respiraram aliviados. eu também. minhas costelas também. até em casa
o caminho seria longo, as ruas desertas. ainda me virei em direção à vendinha
do joaquim. as portas já estavam fechadas. por um instante pensei em ir até lá
e esvaziar a bexiga bem na calçada da vendinha. mas há muito tempo eu já me
dera conta de que há territórios que não se conquistam mais. muito menos se
demarcam. mijei mesmo no primeiro poste que vi.
Para ler o restante, adquira o livro Diário dos vivos e outros escritos, publicado pela Editora Penalux, set. 2019, no site a seguir:
https://www.editorapenalux.com.br/loja/contos/diario-dos-vivos-e-outros-escritos
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